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Mudanças climáticas e seus impactos nas comunidades tradicionais na Amazônia são temas de reportagens internacionais

sexta-feira, 11 de maio de 2018


Projeto Poço de Carbono Juruena é reconhecido como uma eficiente proposta de mitigação dos efeitos de mudanças climáticas e alternativa econômica para a região 
 
Assessoria - É essencial que projetos que defendam as necessidades de ribeirinhos, assentados e indígenas ganhem escala, tanto como fonte de renda para essas comunidades, como para minimizar os impactos das mudanças climáticas, que já são visíveis. Esta é uma das observações do jornalista americano Sam Eaton, que esteve no Brasil em abril e maio pra fazer uma série de reportagens socioambientais.

As reportagens de Eaton, que é um dos jornalistas independentes especialistas neste tema em nível global, serão publicadas na revista The Nation e também irão ao ar em junho e julho no programa "The World", uma co-produção da BBC britânica com a PRI americana. Além disso, também serão apresentadas num canal de TV público dos Estados Unidos. As matérias foram produzidas a partir de financiamentos da Associação Norte-Americana de Jornalistas de Meio Ambiente e do Pulitzer Center for Crisis.

Em Mato Grosso, Sam Eaton conheceu os Mundurukus, da aldeia Nova Munduruku, de Juara, no Noroeste de Mato Grosso. Os indígenas relataram que a Terra Indígena faz divisa com grandes fazendas. O uso de agrotóxicos nessas fazendas além do esgoto que vai para os rios sem tratamento básico está causando a redução de peixes nos rios que cortam a terra indígena. A pesca predatória também tem acentuado a escassez de peixes. 

Além disso, a redução de chuvas causada pelo El Niño, cada vez mais frequente nesta região do Mato Grosso, está causando diminuição no nível dos rios durante a estação das águas, o que está interferindo na piracema, na desova dos cardumes e na disponibilidade de peixes nos rios, informou Raimundo Munduruku.

Os Munduruku são um dos povos em que o Poço de Carbono Juruena atua. O projeto é desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – Aderjur, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O Poço de Carbono Juruena incentiva a extração e comercialização de castanha-do-Brasil de comunidades tradicionais como forma de potencializar a economia local e ser uma alternativa de renda a centenas de pessoas na região. A castanha, além de ser um produto típico de comunidades tradicionais amazônicas, sua árvore também oferece uma série de serviços ambientais. Como as castanheiras precisam da floresta para produzir frutos, é um apelo a mais contra o desmatamento.

“Desde 2010, quando os Mundurukus se tornaram parceiros do projeto, eles melhoram a qualidade da castanha e estão vigiando suas áreas com mais intensidade para proteger a floresta contra invasores, ao mesmo tempo em que estão sendo melhor remunerados na negociação de preços da sua castanha”, explica Paulo Nunes, coordenador do projeto.

“A viabilidade do projeto foi demonstrada com o entusiasmo em mostrar os resultados, com a vontade de plantar mais castanheiras, manifestada por assentados e indígenas e com a satisfação de não mais dependerem de atravessadores”, explica Cassuça Benevides, jornalista que acompanhou Sam Eaton durante a viagem como produtora e tradutora. “O ganho de escala de projetos que colocam lado a lado as necessidades de ribeirinhos, assentados e indígenas, como acontece com o Poço de Carbono Juruena, nos parece essencial para acabar com a guerra entre os que pregam o atual modelo de desenvolvimento e os que defendem os direitos dos indígenas em manter seu modo de vida tradicional e sua cultura, já que promovem o desenvolvimento sustentável e valorizam a floresta em pé”, complementou.

Fortalecimento da economia local e o ponto de não-retorno

Sam Eaton também entrevistou técnicos do Ibama e o climatologista brasileiro ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Carlos Nobre. O especialista vem alertando que regiões da Amazônia estão próximas de um ponto de não-retorno. Ou seja, que se nada for feito, os efeitos do desmatamento serão irreversíveis. Uma das formas para combater esse impacto é justamente a criação de uma “economia local baseada em beneficiamento dos produtos extrativistas da floresta”. E isso é justamente o que projetos como o Poço de Carbono Juruena vem estimulando.

Sobre o projeto
Desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – Aderjur, com patrocínio da Petrobras, o projeto Poço de Carbono Juruena apoia o extrativismo de castanha-do-Brasil em vários municípios do Noroeste de Mato Grosso. Também incentiva a diversificação de cultivos na recuperação de áreas por meio de sistemas agroflorestais em pequenas propriedades de Juruena. Dessa forma, os agricultores têm diversas opções de cultivos e uma renda garantida e melhor distribuída ao longo do ano. Além do benefício econômico, os sistemas agroflorestais “imitam” o comportamento da floresta, armazenando carbono e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

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